Artigo Publicado no Jornal Correio Braziliense em 15 de julho de 2015
O governo brasileiro tem incentivado a cooperação sino-brasileira, cooperação que ajudou a minimizar nossa dependência excessiva dos EUA, o que nos fez passar pelas crises de 2008 e 2011, embora com dificuldades, certamente com mais tranquilidade que no passado. Já colhemos bons frutos, é verdade, mais ainda ínfimos perto do que se pode colher junto ao gigante Asiático.
Conseguimos nos beneficiar da alta das commodities na última década como ninguém, tendo a China como nosso maior comprador, mas esta relação, sempre muito baseada no comércio, está encerrando seu ciclo de alta e passará por uma importante mudança. O valor das commodities deve se estabilizar nos próximos anos, visto que a recuperação global ainda precisa de um bom empurrão.
A China já não acelera como antes, devendo fechar este ano com crescimento perto de 6,5%. Nossas trocas comerciais somaram USD 79 bilhões em 2014, uma redução de 6%, em relação a 2013. Essa tendência de estabilização do comércio veio para ficar, agora temos de desenvolver uma cooperação mais intrínseca e sofisticada, focando em investimentos. O Brasil carece enormemente deles, que estacionaram em menos de 20% do PIB. Especificamente em infraestrutura, nossas deficiências são enormes. Já as empreiteiras chinesas não têm mais um mercado em ebulição para crescerem como no passado, precisando buscar os mercados internacionais.
O governo brasileiro, mergulhado na crise de caixa, já anunciou que a fonte de financiamentos baratos secou. O BNDES não vai mais ser o maior ator neste processo, os bancos públicos serão mais criteriosos e também elevaram suas taxas. Com este cenário pouco animador, os chineses podem nos ser úteis, trazendo consigo o capital, tão necessário neste momento de escassez. Sem mencionar que eles já são os nossos maiores investidores, não em estoque, mas em fluxo. Nos últimos cinco anos anunciaram mais de USD 68,5 bilhões em investimentos, porém, apenas USD 28 bilhões foram efetivamente desembolsados. Temos de aproveitar o interesse chinês e ao mesmo tempo criar mecanismos para pressioná-los a cumprirem seus compromissos.
Os chineses dificilmente se aventurarão mais profundamente no Brasil de forma independente, como fizeram na África. Aqui eles precisarão cooperar com as empresas locais, não só pela enorme complexidade de nosso ambiente de negócios, mas também porque o empresariado é muito forte no Brasil..
Resta, porém, que o Governo se entenda com o empresariado, tanto nacional, quanto estrangeiro, pois sem ele nada acontecerá e para convencê-lo o governo terá de parar de mudar as regras do jogo ao sabor do vento. O excesso de interferência tem sido devastador. O trem bala não passou de Maria fumaça, as concessões em ferrovias encalharam, os road shows internacionais não se mostraram efetivos, somente algumas rodovias e poucos aeroportos vingaram e mesmo assim muitos dos investidores têm encontrado dificuldades de obter os retornos esperados.
Precisamos que o governo inicie as reformas estruturais, apresente um planejamento de longo prazo e pare de mudar as regras o tempo todo, afugentando o mais agressivo dos investidores. Precisamos parar de apontar problemas externos, reconhecer nossas próprias ineficiências e de fato começar a cavalgada ao desenvolvimento socioeconômico brasileiro no século 21. Precisamos de mais abertura comercial por parte do governo e maior receptividade do empresariado com os investimentos chineses.
Os chineses certamente podem ajudar e muito nosso setor de infraestrutura, agonizando há anos, contribuindo com o eterno custo Brasil e baixa competitividade internacional.
É diante de dificuldades, que nascem ideias inovadoras, modelos bem sucedidos, alternativas valiosas que podem mudar o ambiente que nos cerca. Podemos aproveitar esta crise e tomar as atitudes tão esperadas há mais de 20 anos, mas será que o governo sairá da retórica e adotará as medidas necessárias? O dragão Chinês está passando e melhor: selado, resta o Brasil acordar e juntar-se a ele na corrida da concorrência global.
João Sampaio Vianna – Presidente da Ipanema Investimentos – Mantém negócios com a China desde 2002.